Estratégias para um Ecossistema de Startups DeepTech no Brasil
Por Bruno Rondani
A inovação é, inquestionavelmente, o combustível que impulsiona o progresso e a competitividade das nações. O Brasil tem potencial para se tornar uma potência global em tecnologia, e as startups DeepTechs podem ser os motores dessa transformação. No entanto, criar um ecossistema próspero para essas empresas emergentes é uma tarefa desafiadora devido à complexidade e as alto incertezas.
Desafios de Construir um Ecossistema de DeepTechs
Um dos principais desafios encontrados para a construção de um ecossistema de DeepTechs são os investimentos significativos e de longo prazo para pesquisa e desenvolvimento que as esse tipo de startup requer, o que pode desmotivar investidores devido ao risco e ao tempo prolongado para retorno e os empreendedores pelas descontinuidades de financiamento.
Além disso, é preciso fornecer infraestrutura e recursos avançados, como laboratórios e equipamentos especializados, além de um ambiente que acolha a colaboração multidisciplinar.
E por fim, a burocracia e os regulamentos podem dificultar a comercialização das tecnologias, e a falta de confiança entre diferentes atores do ecossistema pode prejudicar a colaboração.
Mesmo com os desafios intrínsecos, há benefícios estratégicos na criação de um ecossistema de startups DeepTechs:
1. Agilidade da Inovação: Startups têm a capacidade de inovar mais rapidamente, adotando abordagens ágeis para testar e aprimorar suas soluções diretamente no mercado.
2. Validação de Mercado: Ao se tornarem startups, os pesquisadores podem validar suas inovações no mundo real, recebendo feedback valioso que orienta o desenvolvimento tecnológico.
3. Acesso a Financiamento: Startups DeepTechs atraem atenção do capital privado e público, possibilitando um financiamento mais robusto que os subsídios para comunidade científica.
4. Conexão com o Ecossistema: As startups formam redes de conexões com empresas maiores, fornecedores e investidores, fortalecendo o desenvolvimento de tecnologias.
5. Transferência de Conhecimento: Startups servem como canais para transferência de conhecimento da academia para a indústria, alcançando impacto social e econômico direto.
6. Atração de Talentos: Startups DeepTechs atraem talentos especializados, criando um ambiente de colaboração e desenvolvimento multidisciplinar.
7. Proteção da Propriedade Intelectual: Startups estimulam a proteção da propriedade intelectual mais cedo, evitando que outras empresas desenvolvam patentes semelhantes.
Estratégias para Fortalecer o Ecossistema de Startups DeepTechs no Brasil
Para superarmos os desafios e aproveitar os benefícios do desenvolvimento de um ecossistema de startups DeepTechs, entendo que é necessário um plano estratégico focado em cinco pontos chave:
1. Maior Ousadia e Ambição: Encorajar uma maior ousadia entre cientistas, empresários, empreendedores e gestores públicos é essencial. Esses líderes devem adotar uma abordagem ambiciosa, não apenas na busca por soluções tecnológicas, mas também no desenvolvimento de mercados. Mazzucato (2018) e Blank & Dorf (2012) reforçam a importância dessa mentalidade para o sucesso das DeepTechs.
2. Cultura Aberta à Inovação: Estabelecer relações de confiança e colaboração entre diferentes atores é fundamental. A integração entre academia, indústria e governo pode eliminar barreiras de comunicação e facilitar a implementação de tecnologias inovadoras. Chesbrough (2003) defende que uma colaboração efetiva entre empresas, universidades e governos pode acelerar o desenvolvimento tecnológico, como reforçado pelo OECD (2008).
3. Confiança e Compromisso: Estabelecer relações de confiança e colaboração entre diferentes atores é fundamental. A integração entre academia, indústria e governo pode eliminar barreiras de comunicação e facilitar a implementação de tecnologias inovadoras. Desenvolver redes de confiança é fundamental para facilitar a transferência de conhecimento e reduzir incertezas. Powell et al. (1996) e Freeman (1991) demonstram como parcerias robustas entre diferentes entidades podem estimular a inovação.
4. Desburocratização e Modernização: Simplificar as interações entre universidades, empresas e órgãos de fomento pode acelerar a o financiamento de projetos e transferência de tecnologia. A experiência de Mowery & Sampat (2005) com a legislação nos EUA mostra que simplificar a transferência de tecnologia beneficia a colaboração entre academia e empresas. Da mesma forma, o Banco Mundial (2017), ao revisar o ecossistema de inovação brasileiro, propõe a reforma de procedimentos para tornar o processo de obtenção de fundos mais eficiente e criar incentivos que reduzam as barreiras burocráticas.
5. Gestão de Ecossistemas de Inovação: Investir em metodologias eficazes para gerenciar ecossistemas é essencial. Uma abordagem estratégica e coordenada ajuda a criar conexões valiosas entre os diferentes atores. A gestão eficiente é crucial para a prosperidade do ecossistema. Adner (2006) sugere que a estratégia de inovação deve estar alinhada com as dinâmicas de um ecossistema colaborativo, enquanto Gawer & Cusumano (2014) argumentam que plataformas industriais ajudam a conectar atores-chave, facilitando a comunicação e a colaboração.
Foco no Impacto Social e Econômico
Em conclusão, um ecossistema de startups DeepTechs bem-sucedido deve manter o foco no impacto social e nos benefícios econômicos. Promover ousadia e ambição, incentivar a cultura aberta, construir redes de confiança, desburocratizar processos e gerenciar eficientemente o ecossistema são os pilares de uma estratégia que coloca o Brasil no caminho da liderança global em inovação.
Os benefícios são vastos e incluem maior competitividade, geração de empregos qualificados e avanços tecnológicos que beneficiam diretamente a sociedade.
Referências:
1. Mazzucato, M. (2018). The Entrepreneurial State: Debunking Public vs. Private Sector Myths. Anthem Press.
2. Blank, S., & Dorf, B. (2012). The Startup Owner’s Manual: The Step-By-Step Guide for Building a Great Company. K&S Ranch.
3. Chesbrough, H. W. (2003). Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology. Harvard Business Press.
4. Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). (2008). Open Innovation in Global Networks. OECD Publishing.
5. Powell, W. W., Koput, K. W., & Smith-Doerr, L. (1996). “Interorganizational Collaboration and the Locus of Innovation: Networks of Learning in Biotechnology.” Administrative Science Quarterly, 41(1), 116-145.
6. Freeman, C. (1991). “Networks of Innovators: A Synthesis.” Research Policy, 20(5), 499-514.
7. Mowery, D. C., & Sampat, B. N. (2005). “The Bayh-Dole Act of 1980 and University-Industry Technology Transfer: A Model for Other OECD Governments?” Journal of Technology Transfer, 30(1-2), 115-127.
8. World Bank. (2017). Revisão do Ecossistema de Inovação Brasileiro. The World Bank.
9. Adner, R. (2006). “Match Your Innovation Strategy to Your Innovation Ecosystem.” Harvard Business Review, 84(4), 98-107.
10. Gawer, A., & Cusumano, M. A. (2014). “Industry Platforms and Ecosystem Innovation.” Journal of Product Innovation Management, 31(3), 417-433.