É a vez das Deep Techs!

Por Bruno Rondani

O ecossistema de inovação brasileiro tem passado por transformações significativas desde a primeira década do século XXI. Inicialmente, o foco estava na implementação de fundos setoriais e na criação de legislações de agências regulatórias voltadas para pesquisa e desenvolvimento (P&D). Este período foi marcado pela inspiração no modelo coreano, que visava transferir o conhecimento científico para o mercado por meio de políticas de contratação de pesquisadores e criação de estruturas de P&D em empresas.

A partir da crise de 2008, duas grandes revoluções moldaram o cenário: a Inovação Aberta (Open Innovation) e o Venture Capital. A Open Innovation promoveu a colaboração entre empresas e startups, enquanto o Venture Capital pós-crise impulsionou o surgimento de novas empresas de tecnologia. Nesse cenário, grandes empresas de tecnologia e marketplaces globais contribuíram para a transformação digital, implementando plataformas de inovação que estimularam novos modelos de negócios.

Nos últimos anos, assistimos um novo momento para as Deep Techs, impulsionado por um ecossistema mais maduro e políticas públicas de inovação mais robustas, resultado de décadas de aprendizado, ao mesmo tempo em que empresas e startups estão cada vez mais integradas, colaborando em um ambiente de inovação mais dinâmico e conectado.

De acordo com o relatório Deep Tech: The New Wave, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a América Latina e o Caribe (LAC) têm mostrado um crescimento significativo em startups Deep Tech, com destaque para áreas como biotecnologia, inteligência artificial e nanotecnologia. Esses setores estão criando valor significativo, oferecendo retornos atraentes para investidores e mostrando um grande potencial de impacto social e econômico.

O Brasil tem se destacado como uma economia relevante, sendo a oitava maior do mundo, além de ocupar a décima terceira posição na produção científica global. O país também é conhecido pela sua capacidade empreendedora, com uma grande quantidade de empreendedores ativos. Nos últimos anos, a abertura das corporações, tanto multinacionais quanto líderes nacionais, tem fortalecido a open innovation, destacada pelo trabalho com startups, como medido pelo Ranking 100 Open Startups.

Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos em termos de competitividade e inovação. O país está mal posicionado nos rankings globais de competitividade e inovação, evidenciando a necessidade de corrigir a falta de competitividade e produtividade da indústria nacional.

O Caminho Adiante: Integração e Gestão de Ecossistemas

A foto histórica que acompanha este artigo mostra a equipe original do projeto de Radar Meteorológico da Atmos. A Atmos, atualmente parte do Saab Technologies, era uma joint venture formada pela Omnisys, atualmente parte do Grupo Thales, e pela Fundação Atech, agora parte do Grupo Embraer.

Essa imagem ilustra a colaboração entre startups, que, por meio da Open Innovation e de parcerias estratégicas com líderes globais, resultou em um projeto de tecnologia avançada. Esse projeto contou com o apoio da Finep e Fapesp, destacando o poder de um projeto Deep Tech que alcançou sucesso sem a necessidade de Venture Capital.

Para aproveitar a nova onda de Deep Tech, é crucial integrar indústria, empresas e startups com políticas públicas que fortaleçam os ecossistemas de inovação. Em vez de modelos lineares de financiamento individual de P&D, precisamos de modelos baseados em ecossistemas que promovam a colaboração e a inovação coletiva.

Algumas recomendações:

  1. Arenas de Inovação Orientadas a Desafios: Implementar arenas de inovação que incentivem a solução de problemas reais e urgentes.
  1. Ambientes de Inovação Digitais: Criar ambientes digitais robustos, que facilitem a conexão da comunidade, a troca de oportunidades e a análise de dados para tomada de decisão informada.
  1. Fomento a Startups Deep Tech: Estabelecer programas de apoio específico para startups Deep Tech, proporcionando acesso a capital, infraestrutura e mentoria especializada.
  1. Políticas Públicas Integradas: Desenvolver políticas públicas que incentivem a colaboração entre universidades, centros de pesquisa e o setor privado, criando um ecossistema de inovação coeso e sustentável.

O relatório do BID também destaca que a adoção de tecnologias disruptivas e a criação de startups Deep Tech podem permitir que a região supere obstáculos tradicionais de desenvolvimento, desbloqueando novas possibilidades econômicas, sociais e ambientais. Tecnologias avançadas, como energia solar, veículos elétricos, biotecnologia e manufatura avançada, têm o potencial de impulsionar o crescimento econômico, promover a equidade social e melhorar a sustentabilidade ambiental na região.

Ao adotar essas estratégias, o Brasil pode capitalizar na nova onda de Deep Tech, fortalecendo seu ecossistema de inovação e melhorando sua competitividade global. A jornada de inovação é contínua e exige adaptação constante, mas com as ferramentas e políticas certas, é possível transformar desafios em oportunidades e construir um futuro mais inovador e próspero.