Valuation: como sustentar o valor da sua startup ao longo da jornada de investimentos
Definir o valuation é um desafio que todo empreendedor enfrenta ao buscar investimentos. Essa definição deve levar em consideração a jornada de investimento, e não a fotografia do momento.
Impulsionado pelos anos da pandemia, o mercado de investimentos em startups passou por um momento de festa, promovida, principalmente, por fundos de Venture Capital. Durante esse período, investidores apostaram (e alto), levando a uma explosão de valuations. Ainda que essa valorização tenha assustado muitos, a grande maioria dos investidores aceitou o risco e entrou na festa. Porém, esse desequilíbrio no mercado de investimento gerou uma ressaca, e começamos o ano de 2022 com uma onda de demissões, justamente nas startups que mais captaram recursos.
No momento atual, o mercado de investimentos está passando por uma correção, e os próprios empreendedores voltam a pôr os pés mais no chão. As startups estão mais cautelosas a respeito da sua própria análise de cálculo de valuation, lembrando que, mais do que a fotografia do momento, vale construir uma jornada sustentável de valorização da sua empresa. Afinal, um valuation e captação excessivos podem prejudicar o seu desenvolvimento no longo prazo.
Neste artigo, separamos as principais dicas para você, empreendedor early-stage, que busca construir uma jornada sólida de captações e como negociar de forma mais efetiva o seu valuation. Confira:
O que é valuation
Valuation representa o valor de um empreendimento e é considerado como uma análise necessária do negócio para o empreendedor que busca por investimentos. Porém, a definição do valuation é apenas um dos elementos dessa jornada. Ele, por si só, não quer dizer muita coisa.
Há diversas metodologias clássicas de se definir o valuation de empresas, baseadas em premissas predominantemente financeiras. Porém, muitas dessas análises não são adequadas para startups que planejam entrar em uma jornada de alto crescimento, como pressupõe o mecanismo de staged-financing aplicado, em específico, pela categoria de investidores Venture Capital.
Startups que queiram atingir seu potencial de crescimento de forma rápida, porém sustentável, devem levar em consideração uma jornada que lhes permita não serem diluídas antes do tempo, mas também não devem se iludir com valuations insustentáveis frente às incertezas do seu processo de desenvolvimento.
Segundo Gustavo Junqueira, Diretor da KPTL gestora de fundos de Venture Capital, o valuation é um dos ingredientes de uma construção conjunta, em que o empreendedor, durante a sua jornada, enxerga a necessidade de apoio para chegar onde tem potencial de chegar. “E os investidores vêm para acelerar, diminuir riscos e antecipar o futuro”, afirma.
Jornada de criação de valor: o primeiro passo para negociar o seu valuation a cada etapa
Ao desenvolver um modelo de negócio, não basta que o empreendedor construa sua jornada pautada apenas na confiança que possui sobre o valor potencial da sua inovação. É necessário que se tenha um planejamento de quais etapas deve vencer para atingir o sucesso. Ou seja, a jornada de criação de valor é a história de como o empreendedor quer realizar seu potencial e como as rodadas de investimentos vão suportar essa expectativa de crescimento passo a passo.
Por isso, o objetivo não é obter o maior valuation possível a cada rodada de investimento, e sim como a jornada será construída em conjunto com os investidores para chegar mais longe e mais rápido.
“É uma maratona, e não uma corrida de 100 metros rasos. É preciso se preparar para ter sucesso na guerra, e não se preocupar somente com uma das batalhas.”, afirma Gustavo.
Definição de valuation para startups early-stage
Múltiplos de Ebitda? Múltiplos de faturamento? Fluxo de Caixa Descontado? Fórmula exata de valuation para startups early-stage não existe!
Todos esses métodos podem ajudar a definir um valuation de empresas em etapas mais maduras. Porém, o valuation de startups early-stage é considerado um cálculo empírico e negocial.
Scorecard
Para startups early-stage, que possuem alto potencial, porém baixos níveis de faturamento, uma das metodologias utilizada por fundos de investimentos é o scorecard.
Esse método leva em conta aspectos menos tangíveis do que indicadores puramente financeiros, como:
Potencial de crescimento futuro: bem como as etapas de validação para a realização desse potencial;
Concorrência: os fundos avaliam as startups por segmentos de atuação. Por exemplo, uma startup do segmento de Agritechs é comparada com outras startups do mesmo setor;
Propriedade intelectual e informações sobre a inovação: os investidores olham, ainda, como a solução inovadora se destaca dentre as outras startups do portfólio;
Grau de risco: análise dos pontos de risco da solução, bem como dos processos de operação da startup;
Estágio de desenvolvimento: ponto que é consequência dos itens anteriores e ainda leva em conta estrutura de receitas (escalabilidade); estrutura de custo (economias de escala) e os principais indicadores de crescimento.
Transparência é o nome do jogo
Valuation de startups early-stage depende de um entendimento sobre o potencial do negócio, do seu estágio de maturidade, da capacidade de execução das suas equipes e, finalmente, da necessidade de recursos (não somente financeiros) para vencer cada uma das etapas de desenvolvimento.
A preocupação do cálculo adequado do valuation deve ser de ambos, empreendedor e investidor. De um lado, o valuation não deve ser baixo demais a ponto de diluir os empreendedores a níveis que possam desestimulá-los; do outro, não devem ser altos demais a ponto de serem insustentáveis para atrair investidores nas próximas rodadas de captação.
Gustavo reforça a importância de colocar as cartas na mesa. O empreendedor deve ser transparente em relação à sua inovação e mostrar onde quer chegar a cada rodada.
“Valuation também é uma análise da operação, sendo uma via de mão dupla, onde o investidor contribui com crescimento, fornece mentoria e ajuda as startups a se desenvolverem (não só aportando recursos financeiros)”, complementa.
Até quando os fundadores devem garantir mais de 50% de participação?
Segundo Orlando Cintra Founder & CEO da BR Angels, a regra de que os empreendedores devem garantir participação de mais de 50% até a rodada de Series A pode fazer sentido ou não. Se a jornada da startup prevê ir até o Series F, ingressar na jornada do venture capital em seu Series A com mais de 50% é mandatório, mas pode ser que a startup tenha um plano de saída com foco em M&A ou crescimento orgânico, por exemplo, e não passe do Series A.
“Muitos indicadores de definição de valuation foram construídos a partir da análise de empresas unicórnios (e são indicadores americanos). E esse é o perigo, pois a análise é fora da curva, justamente por levar em conta um negócio de grande magnitude”, afirma Orlando.
Ele comenta, ainda, que os fundos não conseguem identificar um unicórnio logo no início das jornadas de captação. Por isso, para as startups que estão passando pelas primeiras rodadas, seja de investimento anjo, seed, pré-seed e Series A, é importante ter cautela na análise de valuation, para que continuem “estourando” tetos à medida que avançam em suas jornadas de crescimento e inovando nas possibilidades de monetização com os ativos construídos.
Investidores early-stage são parceiros de longo prazo
A entrada de investidores em etapas iniciais da sua startup significa estabelecer relacionamentos que, tipicamente, variam de 3 a 7 anos, podendo chegar a uma década.
Portanto, quem são esses investidores, e como o empreendedor se relaciona com eles, é fundamental. O horizonte de saída só será definido a partir do estabelecimento de uma uma jornada longa ou até se ter evento de liquidez.
Founders e Co-founders
Os seus sócios carregam o negócio junto com você? Essa pergunta pode parecer aleatória, mas os investidores têm olhado cada vez mais para a realidade de governança das startups. Ter um time de sócios esforçados, que carregam o peso da empresa conjuntamente, é de suma importância, inclusive para a definição dos percentuais de ativos destinados a eles.
Onde buscar investidores
Opções não faltam! As startups possuem diferentes formas para buscar aportes. Pode ser via investidor-anjo, fundos de Venture Capital (VC), além do Corporate Venture Capital (CVC), Crowdfunding, entre outros meios.
Com tantas opções, o mais indicado é que o empreendedor busque mais de uma fonte, uma vez que isso aumenta a chance de captar, tendo um modelo de negócio consistente. Além disso, a gestão de ecossistema também é bem valorizada. Assim, a startup tem a chance de conversar com diversos players do ecossistema de inovação, que poderão auxiliar com visões complementares.
Monte a sua Liga da Justiça: traga para perto investidores que querem crescer junto com você!
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Boas práticas para sustentar o seu valuation
Construa a sua jornada de rodadas de investimento. Ele será importante para definir quantas rodadas você precisará para atingir o seu objetivo.
Não exagere no valuation. Se o valuation da rodada anjo for exagerado, rodadas futuras poderão ser prejudicadas. Como dissemos, o importante não é maximizar o valuation da rodada, e sim fazer uma jornada consistente.
Forme a sua Liga da Justiça. Articule com diversos players e componha um grupo versátil de investidores. Importante buscar investidores que estejam alinhados com a necessidade da sua jornada.
Tenha um bom suporte jurídico. É importante se atentar às cláusulas e estar em alinhamento com os investidores, para que, no futuro, nenhuma parte seja prejudicada. Empreendedor e investidor precisam conversar e serem transparentes entre si.
Busque o seu grande diferencial. É importante que a sua inovação não seja “mais do mesmo”. Mostrar, de forma impressionante, como o seu negócio se destaca no mercado terá impacto positivo na avaliação dos investidores.
Equilíbrio é necessário. O empreendedor precisa levar em conta o lado do investidor também, tendo visão da rentabilidade gerada após o aporte, uma vez que a multiplicação de capital ainda é o principal objetivo buscado pelos investidores.
Não desista! Se você recebeu “não” de um fundo, trabalhe os pontos de melhoria a partir do feedback recebido. O “não” pode representar apenas que você não estava pronto naquele momento em específico. Investidores: a cultura de feedbacks é importante para a evolução dos empreendedores.
Saiba, sobretudo, onde você tem potencial de chegar. Nem toda startup precisa alcançar uma rodada Series F, por exemplo. Mais dinheiro necessita de mais robustez, mais inovação e mais performance.
Fórum TOP Open Startups
O Fórum TOP Open Startups visa promover a aproximação dos fundadores e fundadoras das startups premiadas no Ranking 100 Open Startups desde sua primeira edição, publicada em 2016. O objetivo é gerar um espaço de trocas, aprendizados e redes de contatos, trazendo para pauta temas de relevância para o dia a dia dos negócios, com enfoque especial na captação de investimentos. As atividades do fórum fazem parte dos benefícios exclusivos para startups premiadas no Ranking 100 Open Startups.
No último encontro, recebemos Orlando Cintra, Founder & CEO da BR Angels, e Gustavo Junqueira, Diretor da KPTL.