Inovação Linear vs. Inovação em Ecossistema
O mundo empresarial está em constante evolução, especialmente no que diz respeito à forma como abordamos problemas e buscamos soluções inovadoras. Nas décadas passadas, em nome da eficiência e foco, a prática de gestão e empreendedorismo foi pautada por um pensamento linear, orientado por processos causais e modelos de negócios fechados. No entanto, a emergência de novas teorias e práticas, como effectuation, open innovation e a transformação de negócios tradicionais em plataformas digitais indica uma transição significativa para um pensamento de ecossistemas.
O effectuation, por exemplo, não é apenas uma metodologia alternativa à causalidade; é um paradigma fundamentalmente diferente. Em vez de partir de objetivos específicos para a criação de negócios inovadores, enfatiza o uso de recursos disponíveis e a formação de parcerias estratégicas. Esse processo de construção coletiva não só resolve problemas com eficácia, mas também contribui para a expansão do ecossistema de negócios, criando um ambiente mais rico em oportunidades e recursos.
Da mesma forma, a adoção da open innovation acelera essa expansão, ao promover a colaboração para além das fronteiras organizacionais de uma corporação. Empresas que adotam a inovação aberta reconhecem que ideias valiosas e soluções inovadoras podem surgir de qualquer lugar. Ao integrar plataformas de negócios digitais, que oferecem toolkits para desenvolvimento conjunto e participação ampla, as empresas facilitam um engajamento mais profundo com o ecossistema, estimulando ainda mais a inovação e o crescimento.
Tecnologias como Big Data e Inteligência Artificial transformaram o acesso e análise de informações, democratizando o conhecimento e reduzindo as assimetrias de informação. Ferramentas acessíveis, utilizadas para consultas de dados em linguagem natural, tornam a análise de informações complexas mais intuitiva, permitindo que um espectro mais amplo de indivíduos participe ativamente da inovação e da solução de problemas dentro dos ecossistemas.
A competição e adaptação entre SMARTfit Inc. e Gympass ilustram muito bem essa transição do pensamento linear para o ecossistêmico. Enquanto a Gympass, uma startup, entrou no mercado com um modelo baseado em parcerias que permitiam aos usuários acesso a uma rede de academias, a SMARTfit Inc. respondeu com a TotalPass Brasil. Consolidada com sua rede própria, a SMARTfit Inc. realizou uma série de iniciativas em open innovation e gestão de ecossistemas, expandindo seu modelo de negócio para além do modelo linear. Essa transformação é sem substituir ou abandonar sua rede própria, mas alavancando-se dela.
A dinâmica entre Petz e Petlove também reflete um interessante jogo de estratégias no que tange a evolução de abordagens tradicionais para conceitos mais integrados e adaptáveis. A Petlove, inicialmente uma operação puramente online, entrou no mercado com uma proposta inovadora de atender às necessidades pet através da internet, oferecendo conveniência e variedade em produtos e serviços. Em resposta, Petz, uma rede de lojas físicas bem estabelecida, expandiu sua presença digital, desenvolvendo uma plataforma online robusta que complementa suas lojas físicas, permitindo uma experiência de compra omnichannel. Essa abordagem não apenas fortaleceu sua posição no mercado, mas também criou um ecossistema que beneficia tanto os consumidores quanto a empresa, evidenciando uma transição do pensamento de negócio puramente linear para um mais híbrido e ecossistêmico, sem deixar de lado sua vasta rede de lojas físicas, mas sim, potencializando-a como plataforma de negócios digitais.
Esse movimento mostra como a abordagem ecossistêmica não apenas responde a desafios de forma inovadora, mas também redefine o terreno de competição. No caso das academias, não é uma competição de quem controla mais espaços de academia, mas quem possui a melhor rede e ecossistemas de serviços.
Reconsiderar soluções de negócios sob a perspectiva ecossistêmica frequentemente revela alternativas mais ricas e abundantes em recursos e oportunidades. Esse processo de reflexão, que questiona se a abordagem atual é a única ou a melhor maneira de resolver um problema, abre portas para a inovação ao considerar parcerias, recursos compartilhados e soluções cocriadas.
Fica claro, portanto, que a transição do pensamento linear para o ecossistêmico é uma mudança fundamental na condução dos negócios. Ao abraçar a incerteza e valorizar a colaboração, empreendedores e executivos de corporações podem explorar novas possibilidades de inovação e crescimento. O futuro dos negócios não está em proteger recursos e ideias em silos fechados, mas em participar ativamente de ecossistemas abertos e colaborativos, onde o compartilhamento de conhecimento e recursos pode levar a soluções transformadoras.
Por Bruno Rondani, Founder e CEO na 100 Open Startups