Empreendedores por trás das startups mais atraentes são muito mais colaborativos
Os empreendedores mais colaborativos são aqueles que têm maiores chances de crescer. Eles estão abertos a trabalhar até com quem seria visto como mero concorrente
A 100 Open Startups nasceu baseada em duas teorias: a de open innovation (criada pelo professor americano Henry Chesbrough, que prega um modelo de inovação descentralizado e focado em colaboração e na disseminação do conhecimento, inclusive para agentes externos da empresa) e a de effectuation (desenvolvida pela professora indiana Saras Sarasvathy sobre o método que ensina que qualquer um pode empreender ao começar com o que tem e convidar os outros a participar, num processo de cocriação).
Lá no início do projeto, em 2015, colocávamos como desafio na 100 Open Startups a questão da relevância e da importância da colaboração com o processo de inovação. Esse sentimento de ajudar, colaborar com algo que vai beneficiar a si, aos demais e à sociedade era uma grande barreira. Startups não abriam facilmente seus projetos para interagir com o mercado, por exemplo, mas isso hoje já é um padrão, não há mais essa discussão. Elas já sabem que os benefícios da exposição e da colaboração ultrapassam eventuais desvantagens de um ambiente com falta de confiança. Essa é a grande evolução, a grande mudança. Se pegarmos os melhores dez empreendedores do nosso programa há cinco anos e os dez primeiros colocados do Ranking 100 Open Startups 2019, o que muda fundamentalmente no perfil dos empreendedores é a colaboratividade, o quanto ele está disposto e é capaz de cooperar.
A partir daí, criamos um método para buscar as startups que têm mais capital social no ecossistema. Ou seja, mais gente querendo apoiá-las. Esse método resultou no Ranking 100 Open Startups, das startups mais atraentes do mercado. As startups que evoluem no programa e chegam a Top 100 são as que mais fecham contratos e parcerias com o mercado corporativo. Isso é medido pelo efetivo apoio, contrato ou investimento nos novos entrantes. As 50 grandes empresas mais abertas também são premiadas com pontuação baseada no engajamento, na colaboração, na contratação e no investimento que essas empresas fazem com as startups. O principal resultado sem dúvida é que conseguimos demonstrar com dados a relação entre maior apoio e melhor desempenho.Efeito Yellow está impulsionando as vendas de bikes e patinetes(Opens in a new browser tab)
Não basta para a startup ter uma boa ideia. Existe um mito em relação à ideia, uma certa supervalorização. Há alguns anos já se discutia que, além da boa ideia, é preciso boa execução. Essa é a visão da gestão, que é válida. Mas além de tudo o que se preza no bom empreendedor, aquelas capacidades ou habilidades que já estão bem definidas na literatura, como resiliência, flexibilidade, aprendizado rápido, ousadia, pensar grande, adicionamos, hoje, a capacidade de colaborar. E por trás das startups mais atraentes para o mercado há pessoas com essa características em comum. Percebemos que se destacam os empreendedores mais colaborativos, aqueles que apoiam inclusive outros empreendedores e que muitas vezes estão abertos a trabalhar até com quem seria visto apenas como concorrente.
Recentemente, reforçou-se também a questão de timing. E o que nós temos acrescentado é recurso. Já se falava em funding e capacidade de as startups levantarem capital financeiro para seus projetos. Ampliamos o conceito de recursos para o capital social das startups. Ou seja, quão aberto os líderes de mercado estão aos novos entrantes.
As startups são os Street Fighters de modelos de negócio: têm menos legado, mais flexibilidade e, talvez, mais energia e dedicação para testar novos modelos de negócio. Nós passamos a procurar então quais eram as grandes empresas mais amigáveis às ideias que vêm de fora.
E o que vimos acontecer mais recentemente? Grandes empresas líderes transformando-se em plataforma de inovação, abrindo espaço e mercado para startups de forma massiva, como parte de sua estratégia.
Essa é a outra grande mudança do cenário para inovação, quem tem causado maior impacto para as startups. E para acompanhar o movimento, criamos na plataforma o conceito de Open Corps, destacando as grandes empresas mais abertas e preparadas para o relacionamento com o ecossistema de inovação.
Numa primeira fase de open innovation, as grandes empresas deixaram de focar apenas na sua capacidade de gerar inovação a partir de investimentos internos e abriram o processo de inovação na sua função de pesquisa e desenvolvimento. Atualmente, as Open Corps servem de plataforma de modelo de negócio para startups, colocando à disposição do ecossistema ativos anteriormente impensáveis para uma grande empresa abrir a terceiros.
Mais um dos movimentos que estamos fazendo com o 100 Open Startups é na frente de investimentos. Criamos o 100 Open Angels e estamos trabalhando para combater o que identificamos como uma grande diluição das startups. Um dos erros mais comuns do empreendedor brasileiro, ainda muito preocupante, é aquela crença de que “a realidade aqui não é essa” e, por isso, ele aceita qualquer oferta de investimento. Isso dificulta o convencimento de investidores e então as aceleradoras, os anjos e, inclusive, os fundos, põem menos dinheiro e querem morder mais.
Startups que acabam sendo vendidas muito antes da hora, não realizam seu potencial e projetos bons acabam morrendo na praia por uma má estruturação financeira. Para tentar combater isso a proposta é que grupos de investidores passem a coinvestir. Usando parte do nosso método, que a chamamos de gestão de ecossistema, é possível, de fato, gerar aquele efeito que chamamos de smart money.
O processo de coinvestir representa encaixar rodadas maiores, ter mais gente apostando, acreditando, convergindo para aquele grupo de startups. Redes de anjo e de investidores passam a colaborar de forma mais estruturada, colocando o seu potencial de contribuição e conexões a dispor da startup – sem malefícios como trazer muita informação, extrair demais do empreendedor ou superlotar a startup com uma exposição eventualmente ineficiente, porque isso vai ser moderado pela própria rede.
Confirmando a importância dessa tendência, há hoje no Brasil sete unicórnios (empresas avaliadas em 1 bilhão de dólares) e vamos continuar produzindo outros. Hoje está fácil de perceber isso, até pelos volumes de investimento, pela atração de grandes fundos que começam a olhar para Brasil. A princípio aconteceu um fenômeno de microinvestimentos, pequenos cheques para muita gente. Isso, de certa forma, já amadureceu. Agora, há o fenômeno dos supercheques, acima de 50 milhões de dólares, chegando a 100 milhões de dólares.
Se o Brasil produziu três unicórnios ao ano nos últimos dois anos, a partir dos próximos dois ou três anos vamos passar a produzir de 10 a 15 unicórnios por ano. Na fila dos quase-unicórnios tem, pelo menos, uns 30 candidatos. Temos visto esse fenômeno mundialmente e o Brasil está no radar, passando pelo mesmo processo. O resultado vai ser também similar apesar de o país ter entrado com atraso na onda dos unicórnios. A Argentina produziu alguns unicórnios antes do Brasil, por exemplo.
Nós ainda temos poucos unicórnios e pouco investimento em venture capital ou capital empreendedor em geral, investimento-anjo e fundos de seed money para o potencial do mercado. O cenário está começando a se equilibrar agora, com a entrada de grandes fundos e uma movimentação de vários setores e das próprias grandes empresas estruturando também áreas de investimento para startup.
Neste cenário a inovação cumpre um papel fundamental. E, através da metodologia desenvolvida pela 100 Open Startups, demonstramos que já temos empreendedores, empresas e fundos que estão aprendendo rapidamente a colaborar e aplicar este valor.