Inteligência Emocional e Tomada de Decisão frente a Incerteza

Recentemente, em um dos fóruns de nossa comunidade de prática, emergiu um debate fascinante sobre o papel das emoções na tomada de decisão sobre inovação. A questão central girava em torno de como as emoções influenciam a decisão frente à oportunidade de inovação e se empreendedores de startups ou executivos seniores de grandes corporações são afetados de maneiras distintas, considerando os diferentes contextos em que estão imersos.

O conceito de inteligência emocional foi o ponto de partida. O grupo entendeu que a inteligência emocional é um componente crucial no processo de inovação, afetando diretamente a maneira como indivíduos e organizações respondem aos desafios, às mudanças e às novas oportunidades. Quando se trata de inovação, a capacidade de gerenciar emoções, tanto pessoais quanto das equipes envolvidas, pode ser a chave para o sucesso ou o fracasso de um projeto.

Foram propostas três definições práticas de inteligência emocional frente a situações difíceis:

1) Controle Emocional: reagir da melhor maneira possível buscando as emoções certas para a situação

Em momentos de crise, a capacidade de manter a calma e controlar as emoções permite uma tomada de decisão mais lúcida e fundamentada. Lidar com incertezas e pressões é comum no processo de inovação, e uma liderança emocionalmente inteligente pode inspirar confiança e motivar a equipe a encontrar soluções criativas e eficazes.

2) Busca pelo Melhor Resultado para Todos: agir visando alcançar os resultados mais vantajosos para todas as partes envolvidas.

A inteligência emocional envolve a habilidade de compreender e considerar os sentimentos dos outros. Em um contexto de inovação, isso significa criar um ambiente onde todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas, promovendo a colaboração e estimulando a co-criação de soluções que beneficiem todos os envolvidos.

3) Autoconhecimento e Adaptação: reconhecer quando assume estado de mente negativo e sair dele o mais rápido possível

Reconhecer os próprios estados mentais e emocionais é fundamental para se adaptar rapidamente a novas situações. Na inovação, isso se traduz na habilidade de sair da zona de conforto, aprender com os erros e ajustar o curso de ação conforme necessário, sem se deixar paralisar por emoções negativas.

Num segundo momento, o grupo buscou identificar as emoções comumente vivenciadas no processo de inovação:

  • Medo: O medo do desconhecido, do fracasso ou até mesmo do sucesso pode ser predominante. Mudanças e inovações carregam incertezas e riscos, o que naturalmente gera apreensão.
  • Entusiasmo: A perspectiva de criar algo novo ou de transformar uma ideia em realidade pode gerar grande entusiasmo. Esse sentimento pode ser um poderoso motivador para superar obstáculos e levar inovações adiante.
  • Ansiedade: Preocupações relacionadas ao lançamento de um novo produto ou serviço frequentemente resultam em inquietação, especialmente diante de expectativas elevadas ou quando há muito em jogo.
  • Curiosidade: A busca por novas soluções e a exploração de territórios desconhecidos despertam a curiosidade, essencial para a inovação. A vontade de aprender e descobrir impulsiona o processo criativo.
  • Ceticismo: Diante de novas ideias, é comum surgir ceticismo, especialmente se a inovação desafia as normas existentes ou parece muito ambiciosa.
  • Frustração: Quando os resultados esperados não são alcançados ou o progresso é mais lento do que o previsto, a frustração pode surgir. Isso é particularmente comum em processos de inovação, que frequentemente envolvem tentativa e erro.
  • Orgulho: Alcançar um feito inovador ou ser reconhecido por uma inovação bem-sucedida pode proporcionar um profundo sentimento de conquista e satisfação.
  • Esperança: A inovação frequentemente carrega a promessa de um futuro melhor, seja através de produtos e serviços aprimorados, processos mais eficientes ou contribuições positivas para a sociedade. A esperança pode ser uma força motivadora poderosa.

Em seguida, identificamos as emoções mais intensas para empreendedores e para executivos em processos de tomada de decisão de inovação.

Emoções mais intensas em empreendedores de startups:

  • Entusiasmo e Paixão: Empreendedores são frequentemente movidos por uma forte paixão por suas ideias e pelo potencial de transformar setores inteiros. O entusiasmo tende a ser a mola propulsora para inovar e superar desafios.
  • Ansiedade e Estresse: A incerteza e a pressão para obter financiamento, bem como para atender às expectativas dos investidores, acabam gerando altos níveis de ansiedade.
  • Esperança e Otimismo: A crença no potencial de sua ideia e no impacto que ela pode ter geralmente mantém os empreendedores otimistas, mesmo diante de obstáculos.
  • Medo e Ceticismo: O medo do fracasso é uma realidade constante, especialmente em momentos de tomada de decisão crítica. Ceticismo sobre a aceitação do mercado e a viabilidade do produto também são iminentes.

Emoções mais intensas em Executivos Seniores de Grandes Empresas:

  • Cautela e Deliberação: Executivos tendem a ser mais cautelosos, ponderando os riscos e benefícios da inovação devido à responsabilidade de gerenciar recursos extensivos e preservar a estabilidade da empresa.
  • Pressão e Responsabilidade: A necessidade de manter a competitividade da empresa e atender às expectativas dos stakeholders geralmente resulta em uma pressão intensa.
  • Confiança e Comprometimento: Executivos seniores frequentemente demonstram um alto grau de confiança em suas decisões, respaldados por experiência e conhecimento de mercado.
  • Resistência à Mudança: Em alguns casos, há uma hesitação natural em adotar inovações que desafiam as normas estabelecidas ou exigem mudanças significativas na estrutura organizacional.

A discussão revelou diferenças marcantes entre os estados emocionais predominantes entre empreendedores e executivos. Os empreendedores, imbuídos de entusiasmo e impulsionados pela energia e pela disposição para assumir riscos, estão frequentemente sintonizados com as emoções relacionadas ao entusiasmo, e esperança, mas também de ansiedade e medo de perder oportunidades únicas. A síndrome do Fear of Missing Out (FOMO), busca ávida de não perder oportunidades, ficar de fora da nova onda parecem estar muito presente no estado emocional dos empreendedores de startups.

Por outro lado, executivos seniores, navegando no complexo ecossistema corporativo, são frequentemente guiados por uma abordagem mais cautelosa, marcada por um ceticismo reflexivo e uma análise meticulosa dos riscos envolvidos. Esta postura é muitas vezes encapsulada na síndrome do Not Invented Here, uma resistência a ideias ou produtos externos. Na construção do conceito de open innovation, Henry Chesbrough trata com bastante atenção este tema propondo uma emoção substituta para “Proudly Found Elsewhere”, valorizando e integrando soluções inovadoras de fora da organização.

Na fase de conquista mútua, a interação entre esses dois mundos — o dinâmico e entusiasta empreendedor e o analítico e prudente executivo corporativo — requer um equilíbrio delicado. O empreendedor procura conquistar com seu entusiasmo contagiante e sua energia inesgotável, enquanto o executivo busca mitigar riscos e assegurar que a inovação proposta alinhe-se estrategicamente aos objetivos da corporação.

Neste estágio, o respeito mútuo e a compreensão das motivações e emoções do outro são fundamentais. A inteligência emocional se torna a ponte que permite que ambas as partes naveguem por suas diferenças, reconheçam os pontos em comum e construam uma base sólida para uma colaboração frutífera.

Como em qualquer parceria de valor, a fase de namoro e lua de mel é apenas o começo. A verdadeira prova vem com a jornada compartilhada que se segue, pontuada por uma gama ainda mais ampla de emoções e desafios. Entender e gerenciar essas emoções não é apenas benéfico, é essencial para uma parceria de inovação bem-sucedida e sustentável.

Inteligência emocional, portanto, não é apenas um complemento, mas um componente central na tomada de decisão sobre inovação, capacitando empreendedores e executivos a navegarem com sucesso na incerteza, transformando desafios em oportunidades e ideias em realidades impactantes.

Por Bruno Rondani, CEO 100 Open Startups

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